Conversando com outros brasucas que viajam para o nosso caro Brasil de vez em quando, chego a conclusão que um tema comum a todos é também um dos mais controvertidos: as encomendas.
As encomendas nada mais são que pedidos que quem viaja do Brasil para o exterior (ou de quem vive no exterior e vai ao Brasil) recebe de amigos, parentes, conhecidos. Essas encomendas, às vezes, são totalmente desnecessárias no sentido prático: “traga alguma coisa de Londres, qualquer coisa” ou “quero um copo do Hard Rock Cafe da cidade aonde voce está, pra minha coleção de copos do Hard Rock Cafe” (e eu pensei que voce já tivesse o suficiente).
Conheci gente a quem foi pedido de “encomenda” dois Ipods (“compra pra mim que te pago depois”). Há quem tenha levado tres computadores camuflados (?) na mala; há quem já tenha levado um carrinho de bebe Gracco, daqueles enormes, tipo 3 em 1. Há as famosas encomendas de perfumes e cremes da Victoria’s Secret: “são os cremes da promoção leve 6 por 30 dólares. Se der, traga uns doze ou mais, pra eu vender no meu trabalho…aqui custa uma fortuna, vai vender como água”.
Ai ai ai.
Tudo em nome da amizade e da paz.
Mas o pessoal esquece que quem está viajando já tem suas “encomendas” pessoais pra trazer. E que a Receita Federal limita as compras trazidas por brasileiros a US$500 por pessoa, até hoje. Então não há como trazer 2 Ipods, praticamente estourar a quota e simplesmente ignorar o resto, né?
Dizer pro fiscal no aeroporto chegando ao Brasil: “Não senhor, eu não comprei nada disso, não, não gastei um centavo além dos quinhentos dólares. O que esta aí a mais foi roubado” não vai colar.
Cada um tem sua estratégia pra lidar com esse assunto. Dos brasucas que conheço por aqui, algumas opiniões:
-“Não levo nada, minha família já sabe disso e pronto. Ou vou eu, ou vão as encomendas. Como as encomendas não chegam lá sem mim, então eu vou.”
-“Eu digo que na hora de sair pras lojas esqueço da lista que eles me mandaram; aí não pude mais voltar nas benditas e não comprei nada, desculpem”.
-“Compro dez porcento do que me pedem, e em geral a versão mais barata já que a chance de eu não receber o dinheiro é sempre muito grande, e eu não quero arrumar briga com o pessoal justo quando vou visitar”.
-“Eu trago tudo que me pedem. Jóia, roupa, perfume, remédio, brinquedo, maquiagem. Minha família e os amigos lá no Brasil sempre pedem muito, mas não me incomodo. Vou ao Brasil de dois em dois anos, e não mando presente pelo correio nas datas festivas durante esse tempo, então é como se eu usasse o dinheiro dos presentes de dois anos de aniversário, natal e dia das criancas de uma vez só, quando eu viajo. É um sufoco na hora de fazer as malas, às vezes pago excesso de peso de bagagem e sempre dá aquele medo na hora de passar na alfândega, mas fora isso nunca tive problemas. Vale o esforço, faz parte de ir ao Brasil ver minha família, minha terra.”
-“Eu tenho criança pequena, então é mais fácil dar desculpa e dizer que não teve lugar na mala pra trazer tudo que me pedem. Mas meu filho tá crescendo e tô vendo que um dia não vou ter mais essa desculpa”.
-“Adoro ajudar e trazer coisas úteis e que as pessoas realmente gostam, mas tem gente que exagera…por exemplo, um parente meu pediu pra eu trazer um computador e dois Ipods de cores diferentes. Ah, ignorei. Pior é que ninguém diz: estou enviando a grana amanhã mesmo pra voce comprar as minhas encomendas. O povo acha que a gente tem dinheiro sobrando pra comprar as coisas que eles querem, justo quando estamos fazendo uma viagem que é cara por si só. Agora trago só encomendas pra quem é próximo mesmo, meus pais e irmãos e uns poucos amigos, e assim mesmo já avisei que não tenho como trazer nada muito pesado ou caro–eu simplesmente nao tenho condições finaceiras nem forca física pra ficar arrastando malas pesadíssimas pelos aeroportos, e ainda correndo o risco de perder mala com tudo dentro como acontece tanto hoje em dia.”
Eu tento usar o bom senso e equilibrar peso + espaço em mala/necessidade (aqui entre nós, um vidro de perfume Paloma Picasso não é algo de primeira necessidade, certo?).
E claro, se o vizinho do amigo do meu irmão encomendar um anel de brilhante, nao há como eu atender a tal pedido se eu nem conheço o dito cujo. Como venho avisando há alguns anos da decisão aqui em casa de reduzir a malaria, então (acho) ninguém se supreende muito quando chego ao Brasil sem tudo o que foi pedido. Mas admito que não é fácil–eu de certa forma entendo a frustração de alguns querendo certos produtos super caros no Brasil que acabam não chegando. A verdade é que meus dias de carrinho de compras são parte do passado, agora no máximo sou cestinha de mão e olhe lá. Já me perdoei.
E voces? Como lidam com as “encomendas”?